domingo, 26 de setembro de 2010

Professor Nota 10...2009

Projeto: Chaturanga
Professor: Sérgio Jesus de Andrade
Disciplina: Educação Física Escolar
Faixa Etária: 2º e 3º Anos do Ensino Fundamental
                                                                                          
JUSTIFICATIVA
O Projeto nasceu de uma conversa entre professores, equipe gestora e alunos, da EMEB Prof. Geraldo Pinto Duarte Paes, onde as aulas de Educação Física têm um formato diferenciado das demais escolas da rede municipal de ensino da cidade de Jundiaí, sendo ministradas em formato de oficinas específicas. Nesta escola os alunos vivenciam diferentes oficinas, entre elas a oficina Corpo e Movimento onde foi desenvolvido o Projeto Chaturanga.
Com a reforma da quadra; o pouco espaço para as aulas de educação física; combinado com a falta de rendimento dentro de sala devido ao pouco nível de atenção dos alunos; as altas temperaturas do início do ano letivo e pensando em proporcionar aulas que fossem interessantes e significativas, que os alunos conseguissem desenvolver habilidades e competências, decidi construir este projeto de xadrez, possibilitando que os alunos participassem de atividades físicas constantes nas expectativas de aprendizagem da escola, com estratégias diferenciadas do currículo escolar.
Dentro do projeto da escola, “Respeito de Todo jeito”, que visa tornar nossos alunos cidadãos autônomos, e capazes de tomar decisões acertadas nas suas vidas, optei pelo xadrez, que é um jogo com infinitas possibilidades de jogadas e entre todas você sempre precisa escolher a melhor, sendo ainda um jogo que desperta a imaginação e a atenção de milhões de jogadores desde a sua criação.
OBJETIVOS, CONTEÚDOS CURRICULARES, METODOLOGIA
Neste relato optei por utilizar os objetivos, conteúdos curriculares e metodologia em uma só parte, tendo em vista que o projeto se deu de forma uniforme e dinâmica.
O principal objetivo deste trabalho é de ser uma proposta diferenciada. Sendo assim, realizei com os alunos, um levantamento sobre tudo que gostariam de aprender. Dentre tantas propostas sugeridas, optei por uma que fosse inovadora, em que eles não tinham muito conhecimento. Para minha satisfação, surgiu o xadrez, que além de ser uma proposta desafiadora é estimulante.
Desafio lançado: conseguir aplicar um conteúdo novo para 250 alunos de 2º e 3º anos do ensino fundamental. O xadrez, que dentro de tantas outras qualidades, desenvolve a capacidade de concentração e raciocínio nos alunos.
No primeiro momento foi realizado levantamento de conhecimentos prévios, oralmente e em situação de jogo. Muitos não sabiam como era o jogo e nem como se jogava, alguns não tinham nunca visto um tabuleiro, outros alunos já sabiam jogar. Após esta etapa, iniciou-se a apresentação do tabuleiro e das peças aos alunos, por meio de uma história. O tabuleiro foi montado passo a passo, assim como o movimento das peças. Os alunos foram se envolvendo com toda a história, perguntando, participando das aulas, sempre com vontade de saber mais e conhecer o movimento de todas elas para que pudessem jogar de acordo com as regras próprias do jogo.
Ao final da etapa de conhecimento das peças e montagem do tabuleiro, era hora de jogar, colocar em prática o que foi aprendido nas aulas anteriores. Para minha surpresa e satisfação uma boa parcela dos alunos assimilou o conteúdo, e o jogo corria solto nas salas de aula.
As oficinas de xadrez tiveram duração de dois meses, totalizando oito aulas, que aconteceram uma vez por semana, agregadas ao planejamento de Educação Física.
As aulas foram teóricas e práticas. Trabalhamos em sala de aula e na lousa interativa. No início de todas as aulas foram distribuídos aos alunos os tabuleiros e as peças do xadrez para que as crianças se apropriassem do jogo.
As oficinas foram desenvolvidas da seguinte forma:
1ª oficina: Conhecimento da história do jogo: Li para os alunos a história do pequeno Yuri, que no dia de seu aniversário ganhou de seus pais um jogo de xadrez. Dentro do texto já destaquei algumas peças e características do jogo, que fui elencando juntamente com os alunos na lousa, para posteriormente conversar com eles sobre as mesmas. Uma coisa que chamou muita atenção dos alunos foi o fato do xadrez atual ter o nome de “Chaturanga”.
2ª oficina: Conhecimento do tabuleiro e das peças: Na lousa interativa apresentei para os alunos um desenho intitulado “Geri´s game” no qual um velhinho joga xadrez sozinho. Voltamos à sala e discutimos os aspectos do desenho, depois eu desenhei um tabuleiro na lousa, e contei uma história de um casamento entre o rei e a dama. Peça a peça fomos, eu e os alunos montando o tabuleiro. Ao final da história os alunos sozinhos, em um primeiro momento e depois em duplas montaram novamente o tabuleiro para assimilação de todos e também para a colocação das peças.
3ª oficina: As peças e suas movimentações (peão e torre): A partir deste momento a maioria dos alunos já tinha conhecimento de como se montava o tabuleiro. Era hora de começar a conhecer os movimentos das peças. Com ajuda dos alunos, montamos um teatro, desta forma as peças começavam a ganhar vida, deixaram de ser simples peças colocadas no tabuleiro, afinal agora elas se movimentavam. Um fato que me chamou muito a atenção foi o aluno Mateus do 3º ano, que era agitadíssimo em sala, ele ficou pacientemente ensinando a aluna Morine que estava com dificuldade em aprender a movimentação e captura pelo peão. Depois de explicado as movimentações de peão e torre os alunos realizaram então, um jogo com estas peças, o jogo da torre e do peão, onde eles mostravam o conhecimento adquirido na aula.
4ª oficina: As peças e suas movimentações (bispo e cavalo): Em um primeiro momento os alunos, sempre sentados em duplas, montavam seus tabuleiros com todas as peças, depois retiravam as peças que não seriam utilizadas no momento. Iniciei as intervenções com as peças bispo e cavalo. Mostrei para os alunos como se movimentavam as duas peças. O cavalo foi muito mais fácil para os alunos, pois sua movimentação em “L”, construindo a palavra “CA-VA-LO”. O que mais se ouvia na sala de aula era os alunos repetindo “- CA-VA-LO”.
No decorrer desta oficina surgiu uma necessidade! Os alunos queriam jogar em suas casas, mas seus familiares não sabiam. Lançamos um desafio, no qual os alunos deveriam ensinar seus familiares. Nesta etapa o projeto já estava tomando outras proporções, a de reunir a família para aprenderem juntos o jogo do xadrez e colocarem em prática entre elas.
5ª oficina: As peças e suas movimentações (dama e rei): Por fim era hora de encher o tabuleiro que ainda tinha algumas casas vazias. Usei algumas estratégias como: o rei que é o dono do reino, não pode se cansar muito por isso ele anda uma casa só. A dama é a protetora do rei precisa ser rápida, por isso anda mais casas e para todos os lados. Pronto! Nosso tabuleiro estava montado, todas as peças prontas para o jogo. Agora era hora de ver o conhecimento que os alunos conseguiram adquirir de tudo que foi passado até o momento. Fomos ao jogo. Todos os alunos em duplas se cumprimentaram e começaram a jogar, neste momento surgiram vários questionamentos. “- Professor, como se movimenta o peão mesmo?” Para minha surpresa o próprio parceiro explicaria, “- Ele anda pra frente e captura para os lados.” Conteúdo assimilado pude continuar com as aulas.
6ª oficina: Abertura e primeiros passos do jogo: Os alunos já tinham conseguido entender a dinâmica do jogo, mas era preciso saber os atalhos, como iniciar uma boa partida. Depois de montado o tabuleiro, fui explicando sua principal parte, o centro, Mostrei aos alunos que quem conseguisse dominar primeiro esta parte teria mais chances de ter sucesso. Fiz uma analogia com o futebol, onde o time que consegue dominar o centro do campo consegue mais sucesso. Coloquei para os alunos que neste processo a atenção é fundamental.
A atividade do projeto caminhava a todo vapor, decidimos então realizar um festival de xadrez em duplas, no qual cada aluno poderia participar com algum membro da sua família.
Neste momento surgiu mais uma necessidade: os tabuleiros que tínhamos na escola não seriam suficientes para a realização do festival. Entramos em contato com o Projeto Pintando a Liberdade, do Governo Federal e solicitamos mais tabuleiros para nossa escola, Fomos prontamente atendidos. Agora sim poderíamos realizar nosso festival.
Organizei com a ajuda da escola as inscrições para o 1º festival de xadrez de duplas. As mesmas foram enviadas através dos alunos para casa.
7ª oficina: Prática do jogo, xeque e xeque-mate: Os alunos já retinham muitas informações do jogo, já conseguiam desenvolvê-lo. Era momento de saber finalizá-lo, ou seja, conseguirem dar um “xeque” no adversário. Foi o máximo! Outra vez ouvi o borbulho na sala, -“xeque”, “xeque-mate”. Aos poucos eles foram entendendo como podiam evitar e como também se livrar de um “xeque”. O jogo tomou forma nas salas, os alunos estavam prontos para o grande desafio. Era preciso ensinar seus pais a jogar, para daí juntos jogarem no 1º Festival de Xadrez em duplas da escola, que estava se aproximando.
8ª oficina: Prática do jogo e encerramento do Projeto. Na última semana do projeto os alunos tiraram suas duvidas. Estavam ansiosos para o dia do festival. Na finalização do projeto realizou-se um festival em duplas entre pais e alunos, neste festival participaram aproximadamente 300 pessoas.
Com as inscrições previamente feitas, os espaços foram organizados separando as turmas por séries: uma sala para as duplas dos segundos anos e dos terceiros anos. As mesas e tabuleiros estavam prontos, só aguardando os jogadores. Iniciou-se as partidas. As duplas revezaram-se nos tabuleiros. Várias partidas aconteceram ao mesmo tempo. Em uma noite fria e chuvosa todos participaram envolvidos, no final do festival todos os alunos participantes receberam uma medalha e seus pais receberam um texto sobreo projeto, como prêmio de participação.
O 1º festival de xadrez de duplas da EMEB Prof. Geraldo Pinto Duarte Paes, como foi intitulado, aconteceu no dia 24/04/09, no período noturno recebendo pais e filhos. Para sua realização, o evento contou com a colaboração de toda equipe escolar, que proporcionou a todos os presentes, momentos ricos de imensa integração entre escola, pais e comunidade.
AVALIAÇÃO
O projeto teve início em Março do ano corrente, sendo desenvolvido dentro da oficina de Corpo e Movimento. Em um primeiro momento conquistei os alunos para a prática do xadrez. Trouxe personagens que fossem palpáveis para os alunos com os quais eles conseguissem assimilar o conteúdo.
A cada oficina era realizada uma avaliação de todo conteúdo apresentado, para que fosse possível verificar o conteúdo que os alunos tinham retido, e se já podia passar para a próxima oficina ou teria que retomar algum conteúdo, pois as aulas seguintes sempre dependiam de um conhecimento adquirido em aulas anteriores, a avaliação foi feita em sala, com perguntas relativas ao conteúdo da aula, e em jogos relativos as peças com as quais estávamos trabalhando no dia.
Os alunos foram responsáveis pela avaliação, pois jogavam em duplas e tinham a chance de sempre estar observando as jogadas do adversário. Uma fala que ficou fixada pelos alunos é “- Para você jogar bem precisa sempre ajudar o seu adversário, quanto mais ele aprende mais você precisa aprender também.”
A avaliação do projeto é positiva, os alunos de um modo geral conseguiram assimilar os conteúdos. No decorrer do percurso os alunos demonstraram grande vontade de começar a praticar o jogo em casa com seus familiares, mas foi encontrada uma barreira, seus familiares não sabiam jogar xadrez, lançamos uma proposta para os alunos, ensinar seus familiares a jogar, para que todos pudessem aprender, e juntos jogar, assim conseguimos fazer um elo de aprendizagem: escola-família-escola. Os alunos ficaram muito entusiasmados com os avanços no jogo, eles aprendiam na escola e tinham a oportunidade de ensinar em seus lares.
Inicialmente faríamos um festival interno com os alunos, como fechamento e avaliação final do projeto, mas devido às proporções que o projeto tomou, no qual os alunos jogavam não somente dentro das salas de aula, mas também em seus lares com seus familiares, propus um festival em duplas, em que cada aluno participante jogaria com um familiar, os alunos toparam a idéia e o festival foi um sucesso!
AUTOAVALIAÇÃO
Desde 2006 desejava trabalhar xadrez nas minhas aulas, e nessa escola encontrei o espaço necessário, e no novo projeto que minha escola está desenvolvendo, este meu desejo se encaixou perfeitamente.
A minha maior satisfação foi perceber que as minhas aulas estavam sendo entendidas e os alunos estavam conseguindo captar o conteúdo apresentado. A avaliação que faço do projeto é muito positiva, pois percebi que os alunos em um primeiro momento tinham pouco conhecimento do xadrez, agora conseguem desenvolver o jogo sem grandes dificuldades. Umas das maiores satisfações foi o fato de uma mãe de um aluno do 3º ano, que também é professora de educação física, me falar que há tempos tentava ensinar seu filho a jogar e não tinha êxito, e em oito aulas ele conseguiu aprender o jogo e desenvolver sem problemas até ensinando ela a jogar.
Eu como Professor vejo que, todo processo foi positivo, tendo em vista o desafio que era grande no inicio do ano, uma escola nova, um projeto novo, e lançar uma nova proposta de ensino.
Desenvolver este projeto dentro da escola me fez repensar em muito na maneira de ensinar a educação física. Pude perceber que uma aula de educação física pode ser muito proveitosa e prazerosa longe das quatro linhas da quadra e que atividades diferenciadas chamam em muito a atenção dos alunos.
Nos dias de hoje é necessário refletir sobre as atividades corriqueiras, o xadrez traz esta possibilidade, onde o aluno reflete sobre seus atos.
É certo que precisaremos fazer alguns ajustes para o próximo ano, já que os alunos de 2º e 3º anos continuarão na escola. Os alunos já têm um conhecimento adquirido. para os novos alunos poderemos manter alguns aspectos importantes de aprendizagens citadas e vividas. Algumas aulas precisarão ser reformuladas e refeitas. Estes ajustes poderão ser relatados em um próximo projeto, como estou referindo-me a este, paro por aqui, sabendo que meus alunos tiveram a oportunidade de adquirir um novo conhecimento e que puderam ser propagadores de um conteúdo assimilado e aprendido dentro da sala de aula nas suas casas com seus familiares.

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